Bella Notte Ristorante

'cause your shine is somethin' like a mirror

Depois de uma semana corrida, leia-se Semana de Moda em Milão, eu estava exausta. A última coisa que queria fazer seria voltar para NY e ter que assinar mais e mais papeladas sobre o divórcio, mas era preciso. Além do que, há semanas Courtney, mesmo que não admitisse, evitava falar comigo. Eu havia, de fato, ferido seus sentimentos, mas ela ainda era minha filha, e precisávamos esclarecer algumas coisas.

Enquanto isso, minha mente agitava trabalhava enquanto encostei a testa na janela do avião, que estava prestes a aterrissar.

- Eu estou com medo, Dimitri. - O sotaque russo ficava mil vezes mais carregado quando falava com meu irmão. Mas era nossa primeira conversa em vários anos. Assim como, ele estava mais velho, e sua vida profissional era boa. Ao mesmo tempo, tinha as mesmas preocupações que eu: fazia muito tempo, mas tecnicamente, havíamos fugido da nossa família. Quem sabe eles ainda não procuravam por nós? Suspirei enquanto ele segurava minha mão. - De as coisas darem errado. E se Courtney não me perdoar?

Ele revirou os olhos azuis, como todas as vezes em que eu falava alguma bobagem.

- Não seja estúpida, Natasha. Tente falar com ela. - Dimitri assumiu um brilho no olhar, que quase me fez sorrir. - Posso... Vê-la?

Minha filha nunca conhecera seu tio e padrinho. Ele só sabia da existência dela porque, bem, eu não me contentara em esconder o único motivo da minha felicidade. Entreguei para ele meu celular, que tinha uma foto da minha criança como papel de parede.

- Como ela é bonita! Parece com você. - Enrubesci. Ele perguntou: - Quantos anos?

- Dezesseis, quase dezessete. - Pude ouvir o orgulho em minha voz. Ela estava tão grande. Meu irmão me devolveu o celular assim que notou que eu precisava ir, ou perderia o vôo. Nos despedimos, e a última coisa que o ouvi dizer antes de sumir entre os italianos na rua fora:

- Tente falar com ela, Nat!

Ao sair do avião, a primeira coisa que fiz foi entrar no banheiro do aeroporto e vomitar. Amaldiçoei-me e disse para mim mesma, ou quem quer que fosse que estivesse dentro de mim, que era hora de parar. Tive diversos enjoos durante a viagem e, honestamente, estava ficando cansada daquilo. Nem quando estava grávida de Courtney eu fiquei assim. Limpei-me rapidamente, saindo às pressas rumo à limusine que esperava por mim no estacionamento. Minha cabeça girava por conta do fuso horário, mas eu tinha um compromisso. Precisava fazer algo e não podia esperar por aquilo.

O motorista abriu a porta ao mesmo tempo que tirava as bagagens de minhas mãos, e me acomodei no macio banco de trás. Tirei o celular de dentro da bolsa, digitando uma mensagem para ela com pressa.

- Pode ir, Jarvis. - Falei, enquanto apertava o botão de enviar. Nada. Nem mesmo o barulho do motor ligando. Tirei os óculos para encará-lo pelo retrovisor frontal. - Você não me ouviu? Anda!

E saiu com o carro arrancando, enquanto eu revirava os olhos. Motorista incompetente.

***

O trânsito dessa cidade era definitivamente uma coisa que eu não sentia falta. No caminho, pelo menos, tive tempo de fazer a reserva no restaurante italiano. (Sim, eu acabei de voltar da Itália. Sim, eu ainda quero comer um bom raviolli, problema?) Eu chegaria um pouco atrasada e, com a mágica paciência de minha filha, ela provavelmente iria ficar irritada comigo.

Já estava ficando nervosa quando o carro parou na frente do shopping onde ficava o Bella Notte e recebi uma mensagem de texto.

"Já cheguei, onde está? É algo grave?
Court <3"

"Estou indo. X" Respondi enquanto andava, quase correndo, até o ponto de encontro. Parei bruscamente quando senti algo na barriga, quase como uma pontada. Ah, não, de novo não. Torcendo para que fosse só sinal de fome, mesmo que eu soubesse que estava longe disso, continuei.

Entrei sem precisar de identificação. Olhei para a recepcionista e vi que ela usava um casaco feito por mim. Ora, muito bem, quem diria que o salário dela daria para comprar um Natasha Windsor original? Sorri com desdém enquanto tirava os óculos, colocando-os no alto da cabeça. A mesa 17, que eu havia reservado, já estava ocupada pela minha adorável fadinha.

Courtney não mudava. Desde criança, ela sempre quis as roupas mais coloridas, as mais chamativas e, consideravelmente mais caras. Virou uma linda jovem, que poderia ser desejada e cobiçada pelos rapazes, mas manteve sua aparência angelical e inocente. (Pelo menos é o que eu espero). Mesmo que ela estivesse irritada comigo por tudo o que estava acontecendo, eu não pude deixar de sorrir só de olhar para ela. Aproximei-me com cautela, o som dos meus saltos altos batendo contra o chão era mais audível do que minha própria respiração.

- Minha filha. - Eu disse, feliz. - Que saudades.